sexta-feira, 9 de julho de 2010

Aniversário no Hospital

Hoje dia 9 de Julho de 2010 inicio este meu blogue: “Partilha”. Um acto já pensado há algum tempo, mas só hoje iniciado. Porquê? Porquê hoje? Porquê este blogue? Porquê o nome partilha? Pois é, perguntas simples de responder… Partilha penso ser um nome que atribuo a esta minha necessidade de transmitir os meus sentimentos ao outro. O porquê de ser hoje direi mais à frente.

Ainda não me apresentei, sou enfermeira de uma medicina, trabalho apenas há um ano e seis meses. Nesta curta minha experiência profissional posso dizer que esta profissão requer uma grande estrutura psicológica da nossa parte. Cruzamo-nos com a morte, presenciamos as alegrias, as tristezas, as vitórias, as derrotas, enfim uma mistura de sentimentos vividos pelo doente, família e amigos em que o enfermeiro procura estar sempre presente afim de apoiar, mesmo que seja com apenas com o silêncio ou um simples toque. Sabemos que vale muito! Estamos lá 24 horas/dia junto a eles. Mas…. e nós!? Quem nos presta apoio a nós!? Há dias em que o nosso coração fica num turbilhar de emoções. Hoje foi um desses dias! Em que o trabalho não ficou lá entre aquelas 4 paredes, mas me acompanhou até ao meu lar.

Infelizmente não é caso raro festejar-se aniversários no hospital. A equipa multidisciplinar tenta prestar apoio, mas nem sempre conseguimos apaziguar o sentimento de tristeza do festejo desta data não ser no lar do doente junto dos seus familiares e amigos.

Hoje, um dia de trabalho das 8 às 16 horas, presenciei mais uma festa de aniversário em meio hospitalar. Um doente metastizado, cujo seu estado de saúde tem vindo a decair visivelmente, comemorou mais um aniversário. Com uma família super presente, sempre pronta a dar-lhe a mão no que precise, juntámo-nos à festa e tentamos anima-lo com um simbólico bolo e a nossa cantoria. Penso que conseguimos tornar-lhe este dia um pouco mais feliz, mas comoveu-me o seu discurso em que a certa altura diz “se me encontrarem na rua e eu não vos falar, chamem-me à atenção pois gosto muito de vocês”. Ninguém é Deus e não sabemos o dia de amanha, nem poderemos adivinhar o desenrolar do prognóstico, mas pela nossa experiência sabemos que é um caso terminal, um caso em que provavelmente restam uns dias de vida… Aquela força de viver emocionou. As palavras de alguns familiares do doente da cama ao lado, com “Parabéns, felicidades, muitos anos de vida” foram marcantes. Quem dera que as palavras tivessem a força de cura. Pelo lugar que aquele doente já ganhou no nosso coração, pela sua ternura, eu própria lhe quero desejar muitos anos de vida e estou a torcer para que as palavras também tenham força nesta luta. Quero um dia, pelas ruas desta cidade dizer: “Senhor A. eu sou a Tânia, enfermeira da medicina, lembra-se de mim!?”.

FORÇA senhor A. e FORÇA família!

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